v. 1, n. 4, set.-out. 2012


VITRINE DA MEMÓRIA

Neste número vamos viajar pela história do rádio, abordando o seu surgimento no Brasil através de Roquette-Pinto - cujo ideal era "transmitir cultura pelas ondas do rádio" - dando ênfase no seu papel de educador de massas.

 
"Após minha visita a esta Rádio Sociedade não posso deixar de mais vez admirar os esplêndidos resultados a que chegou a Ciência aliada à Técnica, permitindo aos que vivem isolados os melhores frutos da civilização.
É verdade que o livro também o poderia fazer e o tem feito; mas não com a simplicidadee a segurança de um exposição cuidada e ouvida de viva voz. O livro ten de ser escolhido pelo leitor, o que por vêzes traz dificuldades.
Na cultura levada pela Ràdiotelefonia, desde que sejam pessoas autorizadas as que se encarreguem das divulgações, que ouve recebe além de uma escolha judiciosa, opiniões pessoais pessoais e comentários, que aplainam os caminhos e facilitam a compreensão: esta é a grande obra da Rádio sociedade." (Tradução).
Prof. Albert Einstein
(Fonte: SALGADO, Álvaro. A ràdiodifusão educativa no Brasil notas). [Rio de Janeiro]:Ministério da Educação e Saúde, Serviço de Documetação, 1946)

 
 
 

No "Ar" PRA-2 Rádio Sociedade do Rio de Janeiro
Ananda Borges Paranhos*

Rádio Sociedade (1923-1936) 

“Pela cultura dos que vivem em nossa terra. Pelo progresso do Brasil.” (Roquette-Pinto)

Fundada em 1923, no Rio de Janeiro, a Rádio Sociedade foi a primeira emissora radiofônica no Brasil, criada para fins exclusivamente científico, artístico, técnicos e educacionais, permaneceu no ar durante 13 anos.

Seu idealizador, Edgard Roquette-Pinto (1884-1954) chefiava um grupo de cientistas, nas salas da Academia Brasileira de Ciências, todos“movidos pelo ideal de transmitir cultura pelas ondas do rádio” (DUARTE, Adriana, 2009, p.16). Naquela época, para comunidade cientifica brasileira o fundamental era espalhar a importância da ciência, de forma a transmitir a prosperidade nacional. Roquette-Pinto acreditava que a Rádio seria a oportunidade de transmitir cultura e educação a massa da população brasileira, massa que não aprenderá a ler e que não tinha acesso a um livro, enfim a Rádio Sociedade seria o “livro sonoro” dos brasileiros não alfabetizados.

Saber ler não é um fim. O analfabeto é muitas vezes homem de bons recursos técnicos. Mas não pode desenvolvê-los porque lhe falta aquele uso do sábio companheiro impresso [...] Pois dará [o Estado], pelo seu preço de custo, a cada brasileiro, o seu modesto rádio em que ele descalço, até mesmo roto, esfarrapado, amarelo, mole de doença e de ignorância, aprenderá, antes de saber ler, que a preguiça é quase sempre doença; que é preciso plantar o melhor da colheita para obter maior rendimento; que ser soldado não é ser escravo e sim receber instrução e educação, em lugares asseados, dirigidos por patrícios dedicados, fraternalmente, a serviço do País; que o Brasil não é, de fato, o país mais rico do mundo, mas que pode vir a ser, facilmente, se os seus filhos souberem tirar da terra tudo o que ela pode dar; que os povos fortes, são hoje, os povos que sabem aplicar ciência e a arte em melhorar a vida. (ROQUETTE-PINTO, 1975)


O objetivo da Rádio Sociedade estava não só na introdução da radiodifusão no Brasil, mas também na elaboração e estruturação de um plano educacional para o país. E Roquette-Pinto assim a fez, colocando o povo a par das mudanças que aconteciam pelo Brasil e o mundo, levando a educação a todos, inclusive aos que não tinham acesso às escolas, aos livros e jornais.

A Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, não era do governo, e sim constituída por sócios efetivos e associados movidos pelo ideal de integrar o país e educar o povo.

Em meados da década de 1930, a Rádio passou a sofrer com as pressões impostas pelo governo, que através de decretos regulamentavam o funcionamento técnico e intimava as emissoras a aumentar seu potencial. Como a Rádio era sustentada por um fundo de auxilio mantido pelos seus associados e doações de casas comerciais, ela só conseguiria se manter através de empreendimentos comerciais, finalidade da qual afastava Roquette-Pinto e seus sócios dos ideais da fundação da Rádio.

Para que a Rádio Sociedade não perdesse sua linha de atuação, dia 7 de setembro de 1936, Roquette-Pinto doava a rádio ao Ministério da Educação com a seguinte restrição: a de que a rádio deveria continuar com suas atividades exclusivamente educativas. Hoje, a Rádio Sociedade, deu origem a conhecida Rádio MEC – Ministério da Educação, porém com os ideais longe de ser o que foi a Rádio Sociedade um dia.

Já prevendo a doação da Rádio Sociedade, em 1933, Roquette-Pinto, convenceu o amigo e educador Anísio Teixeira, na época Secretário da Educação, a fundar uma rádio-escola que seria mantida pela prefeitura do Rio de Janeiro. Hoje então conhecida por Rádio Roquette-Pinto. Mas ai já é uma outra história...

“A radio-communicação, tão simples, tão econômica... é a verdadeira maravilha do nosso tempo.” (ESPINHEIRA, [1934], p.8)

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* Ananda Borges Paranhos é arquivista formada pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e especialista em Preservação de Acervos pelo Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST).
Artigo baseado em PARANHOS, Ananda Borges. "NO AR” PRA-2 Rádio Sociedade do Rio de Janeiro: pioneirismo no ensino a distância. 2011. 51 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Preservação de Acervos de Ciência e Tecnologia)– Museu de Astronomia e Ciências Afins, Rio de Janeiro, 2011.


BIBLIOGRAFIA*

BRASIL. Departamento de Imprensa Nacional. Serviço de Publicidade. Programa nacional, radio-difusão, sob a direcção do Dr. Salles Filho. Rio [de Janeiro]: Imprensa Nacional, 1934. 98 p.

CÉLIA, Maria. Radio-sketches. 2. ed. Rio [de Janeiro]: Muniz Ests. Gráficos, 1939. 182 p.

COSTA, João Ribas da. Educação fundamental pelo rádio: alfabetização de adultos e cultura popular por meio de sistemas radiofônicos e recepção organizada. São Paulo: [Emp. Gráf. Ed. Guia Fiscal J. Ortiz Junior], 1956. 118 p.

ESPINHEIRA, Ariosto. Radio e educação. São Paulo: Melhoramentos, [1934]. 118 p. (Bibliotheca de Educação, v. 23)

PARANHOS, Ananda Borges. "NO AR” PRA-2 Rádio Sociedade do Rio de Janeiro: pioneirismo no ensino a distância. 2011. 51 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Preservação de Acervos de Ciência e Tecnologia)– Museu de Astronomia e Ciências Afins, Rio de Janeiro, 2011.

SALGADO, Álvaro. A radiodifusão educativa no Brasil: (notas). [Rio de Janeiro] : Ministério da Educação e Saúde, Serviço de Documentação, 1946. 119 p.
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* Disponível na BT. CFCH/Col. INEP na UFRJ

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